Neste domingo, 14 de outubro, mais de 2 milhões de fiéis irão as ruas de Belém em procissão, louvando a Rainha da Amazônia. É o Círio de Nazaré, que reúne e move o povo paraense e os turistas, mostrando ao mundo a representatividade religiosa e cultural da Amazônia.
A saída da procissão está marcada para às 6h30 da manhã, após a tradicional missa, agendada para às 5h, em frente a Catedral da Fé, no bairro da Cidade Velha. A celebração que antecede a romaria será presidida pelo Núncio Apostólico do Brasil,
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Dom Giovanni Agnello. Após a missa, a Imagem Peregrina percorre cerca de 3,6 km de distância. A chegada está prevista, inicialmente, para 12h, na Praça Santuário de Nazaré.
Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos do Pará (Dieese-PA), a cada ano, um número maior de romeiros é atraído para participar do Círio. Em 2012, a procissão deverá reunir mais de 2 milhões de pessoas numa caminhada de fé pelas ruas da capital paraense, um verdadeiro espetáculo em homenagem a Maria de Nazaré.
Assim como em todas as 11 romarias oficiais, durante todo o trajeto do Círio, são prestadas várias homenagens à Imagem de Nossa Senhora, a procissão é marcada pela presença dos promesseiros que realizam diversas manifestações de fé, são pedidos, agradecimentos pelas graças alcançadas e os emocionantes pagamentos de promessas. Neste dia, as ruas e casas se enfeitam especialmente em homenagem à Santa. Após a grande romaria, a Imagem da Virgem fica exposta no altar, da Praça Santuário, para a visita dos fiéis durante os 15 dias da quadra nazarena.
Curiosidade - A devoção a Nossa Senhora de Nazaré remonta ao início da colonização portuguesa. O termo Círio vem da palavra latina "cereus", que significa vela ou tocha grande. Por ser a principal oferta dos fiéis nas procissões em Portugal, com o tempo, o termo passou a ser sinônimo da procissão de Nazaré aqui em Belém e de muitas outras pelas cidades do interior do Estado.
Corda – A Imagem da Santa Peregrina é conduzida dentro da Berlinda, que é puxada por um dos principais ícones do Círio, a corda, onde fica boa parte dos promesseiros. A corda foi inserida no Círio em 1855, quando, em decorrência das fortes chuvas, a feira do Ver-o-Peso ficava inundada. A solução foi atar cordas a fim de que os romeiros pudessem desatolar a Berlinda e agilizar a romaria.

Núcleos e Estações - Com o intuito de buscar maior agilidade no percurso das procissões da Transladação e do Círio, e com a perspectiva da corda chegar atrelada a Berlinda, a Diretoria da Festa de Nazaré, desde o Círio 2004, alterou o formato da corda nestas procissões, que deixou de ser em forma de “U” para ser linear.
Na Trasladação e Círio de 2012, a corda continua sendo dividida em núcleos (da Cabeça e da Berlinda) e estações (são cinco no total). O núcleo da cabeça tem 11 metros e comporta 92 pessoas. Em cada estação são comportados 48 promesseiros.
Em 2011, a Diretoria da Festa de Nazaré e a Arquidiocese de Belém lançaram uma campanha que objetiva evitar o corte antecipado da corda do Círio e da Trasladação. A campanha foi motivada pela necessidade de manter vivo este símbolo tão importante da devoção à Nossa Senhora e, também, para evitar possíveis acidentes durante as procissões. Este ano a campanha foi reafirmada.
Este ano, como no ano passado, o arcebispo fará a benção da corda somente na Avenida Nazaré, próximo ao colégio Santa Catarina – e não na saída, como acontecia antes – e, após esse momento, a própria Guarda de Nazaré fará o corte e a entrega de fragmentos da corda aos fiéis.
Durante o Círio, agentes da Polícia Civil e Militar, além dos Guardas de Nazaré, estarão o tempo todo em alerta para identificar pessoas suspeitas de portar arma branca durante o trajeto. De acordo com a Diretoria da Festa, muitas pessoas que cortam a corda fazem isso para comercializar a terceiros. Quem for flagrado com faca durante a procissão será detido e responderá por porte de arma branca.
Curiosidades - Foi em 2004, que aconteceu o maior Círio da história, com o trajeto sendo cumprido em 9 horas e 15 minutos. Neste mesmo ano, o Círio de Nossa Senhora de Nazaré foi registrado, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), como patrimônio cultural de natureza imaterial.
Milagres - São inúmeros os milagres atribuídos pelos cristãos à Virgem de Nazaré. O primeiro conhecido no mundo foi relatado pelo fidalgo Dom Fuas Roupinho, cujo cavalo galopava descontrolado para um abismo. Ao invocar a Virgem, o cavalo estancou, salvando o fidalgo da morte certa. Outro milagre é datado no ano de 1846, com os passageiros de um brigue português - embarcação de dois mastros comuns - denominado São João Batista, que deixou Belém rumo a Lisboa no dia onze de julho. Dias depois, o brigue naufragou e os passageiros foram salvos por um bote que os trouxe de volta à Belém. O brigue havia, anos antes, transportado a Imagem de Nossa Senhora de Nazaré a Lisboa, para ser restaurada. O bote que salvou os náufragos também era o mesmo que tinha levado a Imagem até o brigue ancorado ao largo da cidade.
Durante a procissão do Círio, alguns carros são levados como representação dos milagres. Esses carros recebem os objetos das promessas que os devotos carregam durante a romaria. Ao todos são 13 carros: Carro de Plácido, Barca dos Escoteiros, Barca Nova, quatro Carros dos Anjos, Cesto de Promessas, Barca com Velas, Barca Portuguesa, Barca com Remos, Carro Dom Fuas e Carro da Santíssima Trindade.
História - A primeira procissão do Círio de Nossa Senhora de Nazaré saiu na tarde do dia 8 de setembro de 1793. Na noite anterior, a Imagem da Santa havia sido transferida de sua ermida, na Estrada do Utinga, para o Palácio do Governo, com toda a pompa da época: 1.932 soldados da Milícia participaram do cortejo. A mobilização foi grande, tinha gente de toda a redondeza de Belém atraída pela feira que o governador determinou que fosse instalada no terreno que circundava a ermida, para a venda de produtos regionais. Desde a sua instituição, até 1881, a procissão saia da Capela do Palácio do Governo.
O Círio passou a ser realizado pela manhã em 1854, devido às fortes chuvas que aconteciam à tarde. A partir de 1882, o bispo Dom Macedo Costa, de comum acordo com o Presidente da Província, Dr. Justino Ferreira Carneiro, resolveu que o ponto de partida seria a Catedral da Sé, o que acontece até hoje.
O segundo domingo de outubro ficou definido como o dia de realização da procissão do Círio, em 1901. Em 1992, no Círio de número 200, a Imagem que saiu na procissão foi à autêntica, a peça encontrada por Plácido. Até o ano de 1999, a Missa foi celebrada no interior da Igreja, como a cada ano aumentava mais a participação do povo, a partir do ano 2000, a pedido do Padre José Gonçalo Vieira, Vigário da Cúria Arquidiocesana, a Missa passou a ser celebrada em um tablado em frente à Catedral.
No Pará, a devoção à Virgem nasce com a história do caboclo Plácido, que encontrou a pequena Imagem de Nossa Senhora de Nazaré às margem do Igarapé Murutucu, que corria pela atual travessa 14 de Março, onde hoje ficam os fundos da Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré. Imaginando que algum devoto da cidade de Vigia havia esquecido a Imagem ali, levou-a para casa. No dia seguinte, não a encontrou. Ela havia retornado ao igarapé. Nova tentativa, novo retorno da Imagem ao nicho que havia escolhido.
A Imagem, então, teria sido levada para a Capela do Palácio do Governo da Província, onde ficou guardada por escolta. De manhã, não havia nada na Capela, a Imagem havia retornado ao igarapé. Obedecendo aos desejos da Virgem, à beira do igarapé foi construída uma ermida, que deu início à romaria e à devoção do povo paraense à Virgem de Nazaré. Hoje, a Basílica Santuário ocupa o local onde foi erguida a ermida para a Virgem de Nazaré.
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